- 'A vida de um ícone': Você já assistiu ?





Documentário “Michael Jackson”

relata as sombras do Rei do Pop
O filme sustenta, em seus principais momentos,
que o hitmaker é mais uma vítima de perseguição

A morte é irreversível, mas costuma ressuscitar carreiras. No caso de artistas populares que experimentaram alguma forma de ostracismo, pode recolocá-los no patamar dos ícones. É o caso de Michael Jackson. Bombardeado de todos os lados nas últimas duas décadas, o cantor, falecido em 2009, dá mote a tardios pedidos de desculpas, caso do DVD recém-lançado pela Universal, pouco antes da condenação do médico particular do astro pop, por homicídio involuntário.




O documentário “Michael Jackson: a Vida de um Ícone” se veste com embalagem de acerto de contas, enumerando os vilões que não só prejudicaram a trajetória de sucesso de Jackson como também provocaram, mesmo que indiretamente, a morte do artista (por superdosagem de remédios).

Produzido pelo amigo e produtor David Gest com a colaboração de familiares, o filme sustenta, em seus principais momentos, que o hitmaker é mais uma vítima de perseguição, possivelmente de cunho racista, por parte do promotor Thomas Sneddon. Por duas vezes, em 1993 e 2005, ele coloca Jackson no banco dos réus sob a acusação de pedofilia, o que teria devastado o cantor.
Sem se preocupar em ouvir o “outro lado”, o documentário busca explicar, por exemplo, porque o artista teria concordado com a ideia de acerto financeiro na primeira vez em que foi acusado, já que alegava inocência. A culpa recai sobre advogados e empresários que não querem que o processo prejudique a turnê, além do desgaste do cantor com tamanha exposição da vida íntima.

Na segunda vez, o júri inocenta Jaco, mas o filme defende que é neste momento que surge o caminho rumo à morte lenta, provocada pela ingestão de drogas lícitas. Michael Jackson nunca mais seria o mesmo. Neste meio tempo, a relação com a família também se deteriora – tanto que “A Vida de um Ícone” só traz depoimentos da mãe Katherine, do irmão mais velho Tito e da irmã Rebbie.

A atitude de La Toya, ao condenar os supostos crimes sexuais de Michael publicamente, em 1993, teria sido fruto da manipulação do empresário e marido Jack Gordon (também não ouvido no filme) – um homem “sem moral e com pouca classe”, afirma Gest.

Jermaine, integrante do The Jackson 5 com o irmão, alimenta outra decepção ao fazer inúmeras exigências para participar de show comemorativo dos 30 anos do grupo, em 2001.

A ausência mais perceptível é a do pai, Joseph, primeiro empresário de Jackson e conhecido pela fama de violento e como um músico frustrado. O rei do pop faz questão de se desvencilhar dele na primeira chance, ao assumir a carreira solo. Quem assume, a partir do final da década de 1970, a figura paterna é Quincy Jones, produtor dos dois álbuns de maior sucesso: “Thriller” (1982) e “Bad” (1987).

A história com os remédios começa bem antes, em 1984, quando Jackson tem o couro cabeludo queimado durante a gravação de um clipe para a Pepsi. O cantor recorre a um recurso médico chamado balonagem (saco plástico colocado sob a pele com o objetivo de expandir o tecido) para reconstituir a parte afetada, mas a custo de dores que o acompanham até o fim da vida.

Outro problema de saúde citado no filme é o vitiligo (doença autoimune em que ocorre a perda de pigmentação), explicação para o branqueamento da pele que vem sempre associada à necessidade de ser aceito pela sociedade branca. Ele se submete a inúmeras cirurgias plásticas, muitas delas desaconselhadas pelos médicos e pela família, modificando os lábios e o nariz.

A opção sexual de Jaco também é debatida em “A Vida de um Ícone”. O biógrafo J. Randy Taraborrelli, autor de “Michael Jackson – A Magia e a Loucura”, observa que o cantor dá margem a especulações de que seria gay por não ser visto ao lado de mulheres.

Ao ser acusado de molestar um garoto no rancho Neverland, o cantor aquece a preconceituosa presunção sobre a homossexualidade, mas é necessário colocar Michael em seu contexto, numa época em que os astros do POP e do rock exibiam comportamento sexual ambíguo - eram os 'andróginos' como Boy George, por exemplo. No livro de Tarraborrelli, ele comenta com detalhes, os traumas que Michael sofre com o comportamento destrutivo do pai Joe com relação à sua mãe Katherine, o que contribui para a discrição da vida amorosa de Michael por toda a sua vida.

O casamento (em 1994) com Lisa Marie Presley, filha de Elvis, é visto como forma de responder às insinuações. O próprio Taraborrelli considera que o matrimônio “veio do nada”. Não por acaso, a vida a dois não dura mais do que 19 meses. Michael Jackson se casa novamente – com a enfermeira Debbie Rowe, com quem tem dois filhos, Prince e Paris. Em 2002, vem o terceiro, Blankett, de mãe anônima.

Fora as polêmicas, há depoimentos saborosos sobre o início da carreira, quando o artista, com apenas cinco anos, chama enorme atenção ao exibir a voz.

Nome pouco associado à trajetória de Michael Jackson, o cantor Bob Taylor, finalmente, é reverenciado como principal elo com a gravadora Motown, onde o futuro astro pop mostra ser uma homem no corpo de menino. Quando adulto, contrapõe-se a essa impressão, retornando à época de criança – conforme observa Gest.


Por Paulo Henrique Silva - Site 'Hoje em dia'