1. Os antecedentes
Michael Joseph Jackson nasceu a 29 de Agosto de 1958 em Gary, Indiana. Desde novo começou a revelar faculdades especiais para cantar e dançar. O pai, Joe Jackson, incentiva-o, mas fá-lo de uma forma militar, privando-o de uma infância vulgar. Em 1962, o pai, organiza um grupo centrado nos três filhos mais velhos. Michael juntasse-lhes no ano seguinte, impondo-se de imediato como o centro das atenções. Em 1968, os Jackson 5, assim se chamava o colectivo familiar, assinam pela editora Motown. O primeiro single, I want you back, lançado no ano seguinte, tinha Michael 11 anos, transforma-se num sucesso. Em 1971 a Motown lança-o, a solo, com o single Got to be there, seguindo-se quatro álbuns, mas foram discos de aprendizagem, mais impostos que desejados. É em 1979, quando lança Off The Wall, que passa definitivamente de estrela juvenil para superestrela adulta.
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2. A produção de Quincy Jones
O amadurecimento, em grande parte, deveu-o ao produtor e compositor Quincy Jones. Até aí, o pai, dominava a sua carreira. A chegada de Jones alterou a relação de forças. Foi em 1997 que o conheceu, um encontro que lhe marcaria a vida futura. Off The Wall, produzido por Jones, marca a sua afirmação, mas Thriller é o passaporte para a imortalidade. Com um orçamento de 750 mil dólares, Jones deu às canções uma atmosfera soul e uma áurea de elegância invulgar para o seu tempo.
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3. Relação entre música e imagem mudou
A MTV mudou depois do vídeo de Thriller, resumindo a ambição do álbum: não era apenas um conjunto de canções, era um autêntico evento de entretenimento. À época, as longa-metragens, que fascinavam as audiências ocidentais eram filmes de terror. Michael queria criar uma versão de A Noite Dos Mortos Vivos, em versão funk, através de um vídeo. Para o fazer recrutou um realizador vindo do cinema, John Landis, um maquilhador, Rick Baker, que havia trabalhado em King Kong, e o actor Vincent Price. Landis serviu-se do vídeo para tentar desenvolvimentos visuais que não eram permitidos no cinema, utilizando as últimas tecnologias para criar efeitos especiais nunca vistos. O vídeo, emitido pela primeira vez a 2 de Dezembro de 1982, dura mais de 13 minutos, com as imagens a formarem uma clássica história de zombies, com corpos em decomposição e personagens mutantes. Depois dele, nunca mais os vídeos para música foram olhados da mesma forma.
4. Os êxitos memoráveis
São apenas nove canções. Quarenta e dois minutos de duração. Mas mais do que suficiente para o álbum se tornar num mito. Dessas nove, sete chegaram ao top 10 das tabelas de vendas americanas e europeias. Canções como Billie jean, The girl is mine, Wanna be startin’ something, Human nature, Beat it, P.Y.T. ou Thriller viriam a ser recriadas por outros artistas, criando a base da pop de sucesso das décadas vindouras, de Beyoncé a Rihanna.
5. Superestrela global
Há muitos anos que Michael era uma voz conhecida, mas foi com este álbum que a popularidade global aconteceu. Para a maior parte dos entendidos, na época, quando se falava em pop negra, quem personificava a audácia era Prince. Desconfiava-se de Jackson. No entanto, ouvindo-o hoje, é difícil não constatar que foi capaz de conceber uma obra ambiciosa, com vocalizações versáteis, da brandura à rispidez, e uma sonoridade que devia tanto ao rock como ao funk ou ao R&B. Apesar da aparente disparidade, é um álbum coeso. Mas não era apenas a música que fascinava.Thriller era uma obra total que pretendia afirmar uma estrela planetária como hoje já não há. De alguma forma, Michael transformou-se num estilo de vida, prenunciando trinta anos antes os impérios de figuras como Jay-Z ou Beyoncé, que fazem valer a sua imagem nos mais diversos domínios – da moda aos cosméticos, da finança ao entretenimento. Tal como eles, encarnava tanto a publicidade como as grandes operações humanitárias como We Are The World. Não surpreende que, na primeira metade dos anos 80, tenha sido coroado Rei da pop.
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6. Os passos de dança
Há a música. A imagem. A produção. A revolução que impôs. Mas é preciso não esquecer os famosos passos de dança de Michael, entre eles o moonwalk. Em palco, nos vídeos, ou nos programas de TV a sua performance física transformou-se em motivo de interesse e sua forma de dançar acabou também por mudar o cenário pop. As boys band das décadas seguintes que o digam.
7. A participação de Paul McCartney
O primeiro tema lançado no mercado, em Novembro de 1982, a antecipar o álbum, foi The girl is mine, um dueto com Paul McCartney, que mais parecia um ritual de passagem para averiguar quem era o Rei da pop na época. É provavelmente uma das piores canções do álbum, mas Michael queria ter Paul no seu disco e nunca o escondeu. Não foi por acaso que, anos mais tarde, viria a adquirir o catálogo dos Beatles. Para além de McCartney, ouve-se a guitarra de Eddie Van Halen em Beat it e a narração do actor Vincent Price em Thriller, dois dos seus outros heróis. As irmãs La Toya e Janet fazem acompanhamento vocal em P.Y.T.
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8. O esbatimento entre artistas brancos e negros
Foi depois do sucesso do álbum que a música pop negra se transformou num bem apetecível. O fenómeno não pode ser dissociado da MTV, revolução televisiva, mas também cultural e social. A cultura rock impelida pela MTV nos primórdios era vulgar e branca, mas no princípio dos anos 1980, um novo género embalava a juventude americana. Um estilo negro. O funk ligeiro, personificado pelos Kool & The Gang, Lionel Ritchie ou Billy Ocean impunham-se nos topes e a sua música era ouvida nas rádios. Na televisão, o deserto. Chega então Thriller. Michael pertencia à editora mais poderosa da época, a CBS, que investiu 250 000 dólares no vídeo de Billie jean. Não lhes passava pela cabeça que a MTV não o emitisse. Resolveram fazer chantagem: ou a MTV o passava ou então a CBS impedia que emitissem Bruce Springsteen, então no auge da fama. A MTV cedeu e Michael obtém um sucesso sem precedentes. Com ele abrem-se definitivamente as portas da MTV à pop negra e o canal percebe que a música negra americana excita as audiências brancas. Um ensinamento que dura até aos dias de hoje, ou não fosse a música e os gestos do R&B e do hip-hop a dominarem o panorama americano das últimas décadas.
9. O mais vendido de sempre
Nenhum outro disco teve tanto sucesso. Nenhum outro viria a ter. Até hoje 110 milhões de cópias vendidas. Oito ‘Grammys’. Três quartos do álbum explorados como singles. Sete deles enormes sucessos instantâneos. À época, um grande sucesso rondava os 2 milhões de cópias vendidas. De Thriller foram vendidas 56 milhões. Razão tinha Quincy Jones, quando gritou: “os anos 1980 são nossos!” Eis um disco que fez pela música americana o mesmo que os sucessos de bilheteira do cinema, inaugurando a era dos “blockbusters musicais” programados para conquistar multidões.
10. A longevidade
Quando Thriller foi lançado, Michael afirmou que gostava que fosse um disco tão bom e intemporal quanto a The Nutcracker suite de Tchaikovsky. Como na época, também hoje não faltarão os que acharão despropositada a comparação. Outros dirão mesmo que tal paralelismo nem sequer é possível. Mas a verdade é que se transformou numa das obras mais emblemáticas da música popular. Claro que a sua relevância deve-se tanto à música como às consequências decorrentes do seu sucesso, mas mesmo olhando-o, apenas, a partir do prisma musical, não deixa de constituir um objecto estimulante.
Fonte - Público/Portugal